Coat of arms of the king Sebastião of Portugal and Filipe II of Castilla and Aragón
REINO DE PORTUGAL (III: 1495-1640)
O que tinha sido uma sustentada eleição
Passou de novo a ser uma hereditária sucessão
Enredada nas teias de Castela de então
Sem uma boa base de sustentação
Manuel I o «venturoso»
Deixa Portugal saudoso
Dos tempos em que o mérito prevalecia
Sobre as redes da confiança que se tecia
Todos os caminhos iam dar a Castela
Que em termos culturais invadiu o Luso Reino
Com o fanatismo religioso dela
Tão do agrado de qualquer tirano
A «Santa Inquisição» ascendeu
A Liberdade retrocedeu
A Criatividade desfaleceu
Um fogo de negatividade se acendeu
Em nome de Deus contra a sua criação
Que tenebrosa e vil negação
Depois do apogeu humano só poderia vir a depressão
Depois de tanto trabalho de criativa ascensão
Manuel I lidera a colheita de frutos bons
Mas vai desperdiçá-los em demonstrações de poder
Para quem quiser as ter e as e ver
E lançar sementes más, sem dons
A vergonha invade o Reino
Pessoas por pessoas são massacradas
Por fanáticos religiosos instigadas
Vão-se perder e fugir muitas alarmadas
Cujas gerações tinham ajudado os desenvolvimentos
Que permitiram os grandes descobrimentos
O que Portugal tinha conseguido mais pelo consenso
Vai realizá-lo cada vez mais pela força sem senso
O poder agora conquistado é cada vez mais efémero
E o poder anteriormente desenvolvido na luz
Pela ciência, arte e saber que tanto seduz
Vai pelas trevas ser destruído, a pessoa passa a número
Mas a criatividade desenvolvida ao longo do XVI século?
Tem raízes no passado e vai perder o seu futuro
Num Portugal cada vez mais sisudo e duro
O espaço vai ser cada vez menor para o incrédulo
Luís Vaz de Camões e o seu «fogo que arde sem se ver»
Vai ser cada vez mais substituído pelo fogo material
O primado do Criador, o sagrado Amor
Vai ser cada vez mais substituído pela desumana dor
Manuel, Emnuel, Immanuel ligado por Isaías a Jesus
Que nome tão falso o do Rei, que nos vai desligar de Cristo
E da sua cultura da Vida e do Amor
Portugal vai sofrer cada vez mais o temor e o terror
Com que filhas casa sucessivamente Manuel?
Com as dos «católicos» Fernando e Isabel!
O feitiço vai-se virar contra o feiticeiro
Mais um potencial luso herdeiro
Miguel da Paz, depois de sua mãe Isabel de Aragão
Em 1500, com dois anos, também nos vai deixar
E no mesmo ano Manuel com Maria de Aragão vai casar
Com todas as condições da trama vão reafirmar a Inquisição
O fatum está definido
Para Castela num só sentido
O seu filho João III tão pio como o pai
Vai fazer perder muito pio com ai
E vai casar com quem então?
Com Catarina filha de Joana I e Filipe I de Castela
Terceira filha dos reis católicos e rainha de Castela e Aragão
Vai unificar os dois reinos, que vêem o poder ser afastado dela
A teia de aranha de genes castelhanos eram pouco saudáveis
Física e espiritualmente, João III vai deixar o Reino por um fio
Todos os filhos e filhas falecem antes dele, muito pio
A frágil sucessão monárquica não tem contornos estáveis
Toda a esperança fica depositada no neto Sebastião
Cuja imaturidade vai provocar uma trágica desilusão
Rodeado de Catarina e do cardeal Henrique também muito pio
Que eram a sua avó castelhana e o seu inquisidor tio
Encara o império português com megalomania
Como não pode ir para a Índia pelas armas triunfar
Escolhe o Norte de África para pela força tentar mandar
O «velho do Restelo» dos «Lusíadas» já o pressentia
O seu primo Filipe II de Castela e Aragão
Com negociações secretas com o crescente otomano
Tenta hipocritamente, dissuadir ou o cingir a Larache das Hisperíades, Sebastião
Mas promete-lhe algum apoio condicionado pelo limite mês de Augusto, no verano
Prazo impossível de oito meses que fazem correr o Rei imprudente
Que lhe pediu uma das suas filha em casamento
Que o ambicioso primo adia para depois do «cruzado» tormento
Que com hipocrisia o aconselha a não comandar, o«Prudente»
São conselhos de 1577 que no jovem Sebastião o incitam a ir mais além
Que a leitura dos «Lusíadas» por Camões em 1572 o torna refém
Tem que ficar na História como o último cavaleiro «cruzado»
E por Ela depois muito, mas muito amado
Corre, corre Sebastião
Ao papa e clero a pedir a sua «santa» adesão
À nobreza o seu empenho e adesão
Ao povo a sua déspota violentação e expoliação
Catarina e o Cardeal Henrique estão desta vez unidos contra
Mas quanto mais obstáculos mais arde o desejo
De um fogo consumidor que o projecta na acção pronta
Mais uma vez, um líder e o seu grupo tem mais poder que mérito e ensejo
As parcas sortes até têm pena de tamanha ingenuidade nos actos
Os fios da trama estão preparados
E na altura mais ou menos certa serão cortados
Vénus e suas ninfas já nada podem fazer, perante os destinos traçados
O prazo do hipócrita primo é ultrapassado
Tudo é demasiado precipitado
Tudo é violentamente roubado
Ou na melhor das hipóteses aliciado
Ainda por cima, como era de esperar
O alvo não vai ser o local do antigo jardim das maças de ouro a brilhar
Vai ser em pleno mês de Augusto, no Verão de 1578, com muito calor
Um ano depois do hipócrita limite, pasme-se, um espaço no interior
Alcácer Quibir e suas areias em Marrocos ficam tristemente célebres
O crescente otomano com o seu aliado marroquino
Formam uma meia lua à espera do luso quadrado, tudo facilita o destino
As parcas sentem-se mais do que nunca autómatos que correm como lebres
Para os seus tramados fios tão finos e tão fortes
Desejosos dos seus esperados cortes
Até cansados, exaustos e cheios de sede chegam às suas sortes
Os portugueses, italianos, espanhóis, valões e alemães com os seus portes
A meia lua é mais vulnerável no seu centro na linha avançada pelo quadrado
Mas esquece-se na sua bravura liderada por um Távora o seu envolvimento
O «êxito» inicial vai ser transformado num grande lamento
O quadrado avançado vai ser tragado
O Rei numa leviana honra avança sem salvação
Faz tudo o que não devia fazer
Desde o amanhecer até ao ao entardecer
Parecia uma marionete de falsos valores sem potencial de realização
O hipócrita e familiar abutre
Cheio de força da desgraça se nutre
Vai colher o que Isabel de Castela tinha semeado
E que Afonso V, apesar de João II, tinha propiciado
A dinastia de Avis eleita na luta contra Castela
Tinha sido substituída e já não era mais que uma aguarela
João II foi o seu último líder e Manuel já estava enredado
A partir dele e através de teias hereditárias e religiosas o Reino foi tramado
Que alternativas existiam ao abutre, representante da via tramada
A Nação estava extremamente espoliada e endividada
O familiar cardeal Henrique volta de novo à acção, fraco e sem capacidade de decisão,
Sem eleição, tenta um acordo com o abutre, ele que era o líder da «Santa» Inquisição
Filipe II não precisava de ser grande mestre de xadrez
Tinha mais quase um rei, uma dama e mais duas torres num trago de jerez
Em Portugal só haviam bispos, cavalos e peões
E poucos cruzados de ouro e de prata depois da «cruzada» não eram soluções
A nobreza (cavalos), materialmente e espiritualmente vulnerável e aculturada
Foi facilmente presa maioritária do consenso, muitas vezes corrompida
O clero (bispos) alinhado, teve do papado a não permissão
Para Henrique com uma mulher ter união
Os peões (povo, burguesia), mais uma vez eram determinantes
Para tentar lutar contra destinos ainda mais negativos
Faltavam-lhes lideranças e apoios à sua altura
Como existiram nos tempos heróicos da revolução contra Castela e da sua bravura
Pela força e pelo consenso corrupto e traidor
O Reino de Portugal vai ser submetido com profunda dor
A resistência mal estruturada e preparada
Vai ser facilmente tramada
O abutre castelhano ataca a presa
Por terra e mar, sem qualquer surpresa
Campo Maior, Juromenha, Arronches, Olivença, ai Portugal!
Elvas, Estremoz, Montemor-o-Novo, Alcácer do Sal
Setúbal e Palmela também caiem brutalmente
Cascais resiste e cai heroicamente
Bugio e São Julião mais facilmente
No vale de Alcântara cai Lisboa finalmente
«Mudam-se os tempos mudam-se as vontades,
Muda-se o ser, muda-se a confiança;
Todo o mundo é composto de mudança,
Tomando sempre novas qualidades.»
A mudança histórica que Camões expressa é desastrosa
Da independência a Nação fica saudosa
A nobreza e clero que se aliou aos Filipes
Mais ou mais cedo se apercebeu que eram maus os seus apetites
Não participando nas causas favoráveis
Participa e de que maneira, nas desfavoráveis
A sabedoria popular deveria ter sido aprendida com aprofundamento
De Castela «nem bom vento ou bom casamento»
Isabel I e sua filha Joana I de Castela
Joana I de Castela considerada «a louca» após a morte de seu marido Filipe I, unifica o Reino de Castela e o Reino de Aragão. É afastada do poder e encerrada em Tordesilhas com a sua filha Catarina, futura mulher de João III.
A horrorosa e terrorista «Santa Inquisição», já enraízada e fanatizada em Castela, entrou em Portugal por via dos muito pios e comprometidos com os reis «católicos» e seus descendentes, Manuel I e seu filho João III, sendo o seu outro filho, o cardeal D.Henrique, seu líder. A negação da Criação de Deus, do Amor de Jesus Cristo, do Humanismo, vão-se afirmar, para desgraça do Reino de Portugal!
Eis a resultante de manipular a Fé Cristã para legitimar o Poder: o Reino de Portugal cai pelas suas decisões e acções nas areias de Marrocos perante o crescente Otomano e o abutre Filipe II de Castela e Aragão, reforçado pela Casa de Habsburgo (Haus von Habsburg), vai colher o semeado por Isabel I de Castela com o apoio involuntário de AfonsoV, ironicamente cognominado «o Africano», pela sua acção em Marrocos.
Não prevaleceu a visão Nacional e Humanista do Infante e regente Pedro, de sua filha Isabel e de seu neto João II, mas sim a negativista e pia de Manuel I, suas rainhas e seus descendentes castelhenizados ...
OLISIPO, SIVE UT PERVETUSTA LAPIDUM INSCRIPTIONES HABENT, ULYSIPPO, VULGO LISBONA FLORENTISSIMUM PORTUGALLIA EMPORIU. Franz Hogenberg in «Civitates Orbis Terrarum» (V, 1598).
«Os Lusíadas» de Luis Vaz de Camões (1572)
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