19 de Maio de 1954, os Estados Unidos tinham libertado a Europa dos Nazis em 1945, mas não tinham libertado Portugal de um regime autocrático liderado pelo dita a dor António de Oliveira Salazar. A sua visão jurídico-financeira, o seu pavor pela indústria e pela Liberdade, vai bloquear o desenvolvimento do País, que em 1954 é um dos mais atrasados da Europa em termos culturais, económicos, sociais e políticos:
«A agricultura pela sua maior
estabilidade, pelo seu enraizamento natural no solo e mais estreita
ligação com a produção de alimentos, constitui a garantia por excelência
da própria vida, e, devido à formação que imprime nas almas, manancial
inesgotável de forças de resistência social. (...) aqueles que
não se deixam obcecar pela miragem do enriquecimento indefinido, mas
aspiram, acima de tudo, a uma vida que embora modesta seja suficiente,
sã, presa à terra, não poderiam nunca seguir por caminhos em que a
agricultura cedesse à indústria. Sei que pagamos assim
uma taxa de segurança, um preço político e económico, mas sei que a
segurança e a modéstia têm também as suas compensações». António de Oliveira Salazar (discurso em 28-05-1953)
A dinâmica indústria
Causava-lhe angústia
A divina Liberdade
Uma visceral irritabilidade
O jurídico-financeiro dita a dor
Colocou a Economia no congelador
Com a sua fanática austeridade
Ainda mais enraizou a Nação na saudade
Mau, batoteiro e irrealista criou ...
Tudo aquilo que o apavorou!!
Como cogumelos nasceram comunistas
Entregou o Ultramar aos extremistas
Tirano, ignorante e fanático
O seu poder mesquinho e atávico
Perpetuou a cultura parasitária
E profundamente arbitrária
O Além Tejo (Alentejo) da visão Norte-Sul da formação do território da Nação Portuguesa, iniciada com a excelente liderança de Dom Afonso Henriques, que contrasta com a horrível liderança do ditador Salazar, vai ser uma das vítimas do primado agrícola: a «Campanha do Trigo» iniciada em 1929 e que se estende até 1938, vai transformar montados (sobreiro e cortiça), olivais (oliveira e azeite) e vinhas (videira e vinho) em campos de trigo, numa perspectiva de autarcia e de substituição de importações, que vai causar os seguintes problemas, entre outros:
- dependência de uma mono cultura dependente das importações de adubos químicos (a CUF vai ser o agente de importação principal) e de máquinas agrícolas (Duarte Ferreira do Tramagal) e que vai ser explorada de uma forma excessiva em solo e clima não vocacionados para o efeito;
- consequente erosão dos solos, redução da sua matéria orgânica.
_ «Enquanto houver uma nuvem de perigo externo, um germe de
desagregação interior, um português sem trabalho
e sem pão, a revolução continua» Propaganda do Estado Novo citada pelo Diário da Manhã (1937)
_ «SÓ QUEREMOS TRABALHO E PÃO» Catarina Eufémia (1954)
A força bruta autocrática imortalizou e amplificou a voz de Catarina:
«CATARINA EUFÉMIA» - Sophia de Mello Breyner Anderson
«O primeiro tema da reflexão grega é a justiça
E eu penso nesse instante em que ficaste exposta
Estavas grávida porém não recuaste
Porque a tua lição é esta: fazer frente
Pois não deste homem por ti
E não ficaste em casa a cozinhar intrigas
Segundo o antiquíssimo método obíquo das mulheres
Nem usaste de manobra ou de calúnia
E não serviste apenas para chorar os mortos
Tinha chegado o tempo
Em que era preciso que alguém não recuasse
E a terra bebeu um sangue duas vezes puro
Porque eras a mulher e não somente a fêmea
Eras a inocência frontal que não recua
Antígona poisou a sua mão sobre o teu ombro no instante
em que morreste
E a busca da justiça continua»
É esta a nossa homenagem a essa Mulher e a todas as Pessoas que com coragem enfrentaram, enfrentam e enfrentarão o poder mesquinho, a «Tirania, a Ignorância e o Fanatismo», que só após 20 anos aqui foi parado, e que neste dia 25 de Abril de 2013 é lembrado:
CATARINA HEROÍNA
Com o nome de «pura», Chatarina
E de «bom discurso», Euphemia
Da cidade de Chalcedonia,
Luso Latina heroína
Chega-nos a nós a sua eterna voz
Como um rio que alcança a sua foz
E se evapora e se ergue veloz
A denunciar toda a injustiça atroz
E volta para a sua nascente
E regressa ao seu poente
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