sábado, 21 de julho de 2012

LUSÍADAS - LUSIADAE - LUSIADS


Fernando Pessoa «Mensagem» Brazão - II Os Castelos Sexto – D. Diniz (1934) – ilustração de Carlos Alberto Santos



«Na noite escreve um seu Cantar de Amigo
o plantador de naus a haver,
e ouve um silêncio múrmuro comsigo:
é o rumor dos pinhaes que, como um trigo
de Império, ondulam sem se poder ver.

Arroio, esse cantar, jovem e puro,
busca o oceano por achar;
e a falla dos pinhaes, marulho obscuro,
é o som presente desse mar futuro,
é a voz da terra anciando pelo mar.»


Luís Vaz de Camões «Os Lusíadas» (1572) – ilustrações de Carlos Alberto Santos (1974)

«Cessem do sábio Grego e do Troiano
as navegações grandes que fizeram;
cale-se de Alexandre e de Trajano
a fama das vitórias que tiveram;
que eu canto o peito ilustre lusitano
a quem Neptuno e Marte obedeceram.
Cesse tudo o que a Musa antiga canta,
que outro valor mais alto se alevanta!»

Canto I, estância 3


«E vós, Tágides minhas, pois criado
tendes em mim um novo engenho ardente,
se sempre em verso humilde celebrado
foi de mim vosso rio alegremente,
dai-me agora um som alto e sublimado,
um estilo grandíloquo e corrente,
por que de vossas águas Febo ordene
que não tenham inveja às de Hipocrene.»

Canto I, estância 4

«Sustentava contra ele Vénus bela,
afeiçoada à gente Lusitana
por quantas qualidades via nela
da antiga, tão amada, sua Romana;
nos fortes corações, na grande estrela
que mostraram na terra Tingitana,
e na língua, na qual quando imagina,
com pouca corrupção crê que é a Latina.»

Canto I, estância 33

 
«De longe a Ilha viram fresca e bela,
Que Vénus pelas ondas lha levava
(Bem como o vento leva branca vela)
Para onde a forte armada se enxergava;
Que, por que não passassem, sem que nela
Tomassem porto, como desejava,
Para onde as naus navegam a movia
A Acidália, que tudo enfim podia.»

Canto IX, estância 52





«Uma delas maior, a quem se humilha
Todo o coro das Ninfas, e obedece,
Que dizem ser de Celo e Vesta filha,
O que no gesto belo se parece,
Enchendo a terra e o mar de maravilha,
O Capitão ilustre, que o merece,
Recebe ali com pompa honesta e régia,
Mostrando-se senhora grande e egrégia.»

Canto IX, estância85



«E tu, nobre Lisboa, que no mundo
facilmente das outras és princesa,
que edificada foste do facundo
por cujo engano foi Dardânia acesa;
tu, a quem obedece o Mar profundo,
obedeceste à força Portuguesa,
ajudada também da forte armada
que das boreais partes foi mandada.»

Canto III, estância 57


«Vês aqui a grande Máquina do Mundo,
etérea e elemental, que fabricada
assim foi do Saber, alto e profundo,
que é sem princípio e meta limitada.
Quem cerca em derredor este rotundo
globo e sua superfície tão limada,
é Deus: mas o que é Deus ninguém o entende,
que a tanto o engenho humano não se estende»

Canto X, estância 80



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