Fernando Pessoa «Mensagem» Brazão - II Os Castelos Sexto – D. Diniz (1934) – ilustração de Carlos Alberto Santos
«Na noite escreve um seu
Cantar de Amigo
o plantador de naus a
haver,
e ouve um silêncio
múrmuro comsigo:
é o rumor dos pinhaes
que, como um trigo
de Império, ondulam sem
se poder ver.
Arroio, esse cantar,
jovem e puro,
busca o oceano por achar;
e a falla dos pinhaes,
marulho obscuro,
é o som presente desse
mar futuro,
é a voz da terra anciando
pelo mar.»
Luís Vaz de Camões «Os Lusíadas» (1572) – ilustrações de Carlos
Alberto Santos (1974)
«Cessem do sábio Grego e
do Troiano
as navegações grandes que
fizeram;
cale-se de Alexandre e de
Trajano
a fama das vitórias que
tiveram;
que eu canto o peito
ilustre lusitano
a quem Neptuno e Marte obedeceram.
Cesse tudo o que a Musa
antiga canta,
que outro valor mais alto
se alevanta!»
Canto I, estância 3
«E vós, Tágides minhas, pois criado
tendes em mim um novo engenho ardente,
se sempre em verso humilde celebrado
foi de mim vosso rio alegremente,
dai-me agora um som alto e sublimado,
um estilo grandíloquo e corrente,
por que de vossas águas Febo ordene
que não tenham inveja às de Hipocrene.»
tendes em mim um novo engenho ardente,
se sempre em verso humilde celebrado
foi de mim vosso rio alegremente,
dai-me agora um som alto e sublimado,
um estilo grandíloquo e corrente,
por que de vossas águas Febo ordene
que não tenham inveja às de Hipocrene.»
Canto I, estância 4
«Sustentava contra ele
Vénus bela,
afeiçoada à gente
Lusitana
por quantas qualidades
via nela
da antiga, tão amada, sua
Romana;
nos fortes corações, na
grande estrela
que mostraram na terra
Tingitana,
e na língua, na qual
quando imagina,
com pouca corrupção crê
que é a Latina.»
Canto I, estância 33
«De longe a Ilha viram
fresca e bela,
Que Vénus pelas ondas lha levava
(Bem como o vento leva branca vela)
Para onde a forte armada se enxergava;
Que, por que não passassem, sem que nela
Tomassem porto, como desejava,
Para onde as naus navegam a movia
A Acidália, que tudo enfim podia.»
Que Vénus pelas ondas lha levava
(Bem como o vento leva branca vela)
Para onde a forte armada se enxergava;
Que, por que não passassem, sem que nela
Tomassem porto, como desejava,
Para onde as naus navegam a movia
A Acidália, que tudo enfim podia.»
Canto IX, estância 52
«Uma delas maior, a quem
se humilha
Todo o coro das Ninfas, e obedece,
Que dizem ser de Celo e Vesta filha,
O que no gesto belo se parece,
Enchendo a terra e o mar de maravilha,
O Capitão ilustre, que o merece,
Recebe ali com pompa honesta e régia,
Mostrando-se senhora grande e egrégia.»
Todo o coro das Ninfas, e obedece,
Que dizem ser de Celo e Vesta filha,
O que no gesto belo se parece,
Enchendo a terra e o mar de maravilha,
O Capitão ilustre, que o merece,
Recebe ali com pompa honesta e régia,
Mostrando-se senhora grande e egrégia.»
Canto IX, estância85
«E tu, nobre Lisboa, que
no mundo
facilmente das outras és
princesa,
que edificada foste do
facundo
por cujo engano foi
Dardânia acesa;
tu, a quem obedece o Mar
profundo,
obedeceste à força
Portuguesa,
ajudada também da forte
armada
que das boreais partes
foi mandada.»
Canto III, estância 57
«Vês aqui a grande
Máquina do Mundo,
etérea e elemental, que
fabricada
assim foi do Saber, alto
e profundo,
que é sem princípio e
meta limitada.
Quem cerca em derredor
este rotundo
globo e sua superfície
tão limada,
é Deus: mas o que é Deus
ninguém o entende,
que a tanto o engenho
humano não se estende»
Canto X, estância 80
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