ULTRAMAR
Tanto mar, imenso mar
Para (des)conhecer o Ultramar
A Nação muito amar
Implica(va) a cultura de muito bem semear
Para a Liberdade se originar
Para o Humanismo Universalista encantar
Ao se induzirem dialécticas negativas
O que se despoletaram foram potencialidades cativas
A artificial distanciação das Pessoas nativas
Internacionais jogos de somas negativas
O Partido Socialista liderou a luta contra a dupla tirania, duas faces da mesma moeda SS, a salazarista e a soviética. A precipitada descolonização tem causas e consequências ligadas a essa moeda com as suas duas faces. A alternativa ao caminho afunilado e mesquinho de Salazar, que nunca conheceu o Ultramar, era, por exemplo, o proposto por Norton de Matos, abrir, desenvolver, gerar consenso. O caminho seguido por Salazar iria degenerar inevitavelmente na força e deu todo o espaço à afirmação efémera da União Soviética em África, num contexto histórico de fragilização da política externa dos EUA, com as incríveis e péssimas lideranças de Nixon e Gerald Ford, influenciadas pelo tenebroso Kissinguer, que Carlucci ainda travou na sua cegueira estratégica em relação a Portugal, mas que ninguém travou em relação a Timor. Foi Salazar, a sua PIDE, a sua tirania e atrocidades, que causaram a situação de estarmos sujeitos ao terrorismo que veio do Norte de Angola. As vítimas são sempre as mesmas, as que nada influenciaram as decisões, fossem europeus ou africanos. A guerra civil em Angola mostrou aos africanos o logro em que cairam por culpa de Salazar e com o oportunismo soviético (apoiado pelo PCP e pelos PC´s do MFA) de pensarem que o seu problema era Portugal. Mas a verdade vem sempre ao de cima e Angola tem sido um forte apoio para o que se abateu sobre Portugal recentemente, não tivesse ainda consequências mais desastrosas. Revelador António de Spínola em entrevista a José Pedro Castanheira publicada no Expresso, em 30 de Abril de 1994: «(...) Fui como voluntário para Angola. Em 1961, a questão (...) colocava-se em termos de defesa do Ultramar face aos ataques brutais e indiscriminados a que as populações portuguesas de todas as origens foram sujeitas. (...)
Fui convidado para governador da Guiné (...) em 1968, colheu-me de surpresa , dadas as críticas que eu formulara numa carta que escrevera ao dr. Salazar em 1961, considerando que a estrutura política estava dominada por oportunistas e era necessário rejuvenescer (...) fora do círculo vicioso da União Nacional. Ao convite (...) seguiu-se uma audiência com Salazar (...). Ante a tese de Salazar de «defesa do Ultramar» e de «defesa da Guiné face à ameaça soviética, tive ocasião de lhe expor a tese da «revolução social», com a aceleraçção máxima do desenvolvimento econóomico, em paralelo com a promoção social e cultural dos africanos. Só assim a defesa militar tinha sentido útil. (...) Salazar só me disse: «É urgente que embarque para a Guiné». (...)
(...) momento de esperança (...) soluções de abertura, o que setraduziu na Guiné, pela acção de conquista das populações para uma soluçção portuguesa de solidariedade, associada a uma autonoomia progressiva. O prof. Marcello Caetano sabia que o apoiaria nas mudanças políticas nacionais que conduzissem a esse objectivo, o qual determinava uma abertura democrática... Infelizmente, pressionado por uma retaguarda já completamente ultrapassada, não conseguiu vencer as suas próprias hesitações...
(...) o meu primeiro objectivo foi reduzir drasticamente a capacidade militar do PAIGC, fazendo pender a balança da guerra a nosso favor. E foi o que aconteceu (...) em 1970, estava enfraquecido, dividido e mais longe das populações (...) Era altura de negociar, pois os africanos estavam motivados para uma solução no quadro de uma comunidadde portuguesa de tipo federativo... (...) desde o início das minhas funções, sabia que nunca haveria vitória militar numa guerra do tipo daquela que se travava no Ultramar, (...) alimentada por forças internacionais. A solução era política. As fortes posições, moral e militar (...) tinham uma duração limitada. Por isso, 1972 era o ano ideal para medidas concretas...
(...) Senegal (...) encontro secreto com Leopold Senghor (...) realizou-se a 18 de Maio, tendo Senghor expressado uma grande simpatia pelo nosso país e louvado a nossa política social na Guiné. Ofereceu-se para intermedi´´ario, como defensor duma «autonomia interna» de tipo federativo com Portugal. Informou-me mesmo de que Amílcar Cabral era receptivo a essa ideia. Ele próprio me sugeriu um encontro com o prof. Marcello Caetano em Bissau, numa reunião conjunta minha com Silva Cunha e com o prof. Marcello Caetano, tudo foi rejeitado com argumentos jurídico-legais. (...)
(...) manifestei esse meu desígnio (...) Leopold Senghor, o qual me transmitiu o pensamento de Amílcar Cabral com fortes ligações a Portugal. Realizaram-se ainda outros contactos de convergência política com outros emissários de Amílcar Cabral. (...)
["Lá me mataram o homem" (Janeiro de 1973)]
Essa reação (...) a insinuação foi, na verdade, para a PIDE/DGS de Lisboa, que, a proceder assim, agia às ordens do Governo Central, sem qualquer ligação com o Governo da Guiné. Penso, no entanto, que as dissidências internas do PAIGC, habilmente exploradas por Sékou Touré, é que conduziram à morte de Amílcar Cabral.
(...) sempre tive em vista uma solução que conduzisse à autodeterminação do povo da Guiné, e a cooperação de Amílcar Cabral era essencial para esse processo. Não havia no PAIGC substituto com igual inteligência e portuguesismo...
[Março de 1974, Caetano muda de posição em relação a propostas de negociação com o PAIGC, tarde de mais...]
Não tenho palavras para expressar toda a minha indignação (...) propostas por mim formuladas a Marcelo Caetano no mesmo sentido (foram pelo mesmo repudiadas; tomadas em tempo oportuno, essas propostas teriam evitado a forma pouco honrosa como se realizou a nossa retirada da Guiné. (...)»
Preservar sempre na memória da Humanidade as vítimas europeias e africanas da «Guerra Colonial» e das «Guerras Civis» que se seguiram, bem como as vítimas da tirania, ignorância e fanatismo dos terroristas da UPA que em 15 de Março de 1961 realizaram massacres de Pessoas no Norte de Angola, com total impotência do regime autocrático do Estado Novo que não querendo, tudo fez para atrair a cobiça internacional sobre Angola e tudo fez para lançar Angola numa círculo vicioso de destruição, que só recentemente foi travado.
Março de 1961
4: «Informação dos Estados Unidos ao Ministério da Defesa sobre a decisão da UPA em provocar incidentes violentos em Angola na noite de 15 de Março, informação menosprezada pelo comando militar de Angola»
7: «Elbrick transmite a Salazar o documento enviado por Rusk, a mando de Kennedy. Os Estados Unidos prevêem convulsões graves em Angola, do tipo das do Congo ou piores, e vão votar contra Portugal em 15 de Março»
14: «O posto da PIDE em São Salvador difunde uma informação em que se afirma que, no dia seguinte, se verificará um ataque da UPA.»
15: «Ataques dos elementos sublevados do Norte de Angola a algumas povoações, como Carmona, Aldeia Viçosa e Bessa Monteiro. A partir da fronteira e da região dos Dembos, membros da tribo Bakongo empreendem uma insurreição que alastra pelos distritos de Luanda, Cuanza-Norte, Malange, Uíge e Zaire. São chacinados dezenas de europeus, homens, mulheres e crianças, para além da destruição de bens. Estes acontecimentos, relatados detalhadamente na Imprensa nacional e internacional, causam um impacto emocional profundo na opinião pública portuguesa. A responsabilidade destas acções pertence à UPA, de Holden Roberto, movimento rival do MPLA,que distribuíra panfletos, dias antes dos acontecimentos, onde era anunciado “o início das festas para 15 de Março”
«Cronologia da Guerra Colonial» José Brandão http://ultramar.terraweb.biz/Livros/JoseBrandao/1961%20FEVEREIRO.pdf
As actuais relações entre Angola e Portugal demonstram que as raízes histórico culturais de profunda ligação entre luso europeus e luso africanos são muito mais importantes que poderes políticos desastrosos que muito prejudicaram a África e a Europa Lusófonas!
«Hereros» Sérgio Guerra (http://fotos.sapo.pt/sapoao/fotos/?uid=dSYrH0yKrJwHhaniqeVY)
Se Norton de Matos tivesse sido Presidente da República em 1948, Portugal e os Países Lusófonos teriam tido uma evolução muito diferente e nem o PCP, nem os comunistas do MFA, nem a UPA/FNLA teriam o mesquinho poder que tiveram, que lhes foi facultado pelo salazarismo.
«À Nação» por José Maria Mendes Ribeiro Norton de Matos
« Portugueses de aquém e de além mar! A todos me dirijo no momento de ter sido entregue, segundo os preceitos legais, ao Senhor Presidente do Supremo Tribunal de Justiça, a apresentação da minha Candidatura à Presidência da República.
Solicitações instantes, vindas de toda a parte, acumulando-se há mais de um ano à minha volta, com entusiasmo crescente, destruíram em mim as hesitações que de começo formulara.
Carecia, na realidade, de convencer me de que nenhum mal podia advir, com a minha Candidatura, à Pátria que estremeço e que pelo contrário dela algum bem podia resultar.
Este convencimento existe hoje, depois que pude auscultar a opinião democrática e liberal do País, e depois que a sua unidade de vistas a meu respeito se tornou um facto, suficientemente atestado pela qualidade, número e distribuição territorial dos cidadãos que apoiaram e subscreveram, honrando-me sobremaneira, as listas da minha apresentação.
Nestas listas ficam representados, sem dúvida, credos políticos e religiosos diversos, podendo ir a diversidade até à oposição, como nelas figuram individualidades das mais distintas em saber, ao lado de trabalhadores bem modestos. O quadro não pode ser mais expressivo, nem mais perfeita pode ser a fusão em volta de um ideal político de emergência que, de momento, se impõe à consciência da Nação: Ideal desvinculado de todo o partidarismo, alheio a todo o espírito sectário e com autêntico cunho nacional.
Trata se evidentemente de um candidato de oposição ao regime actual. Mas de um candidato que exprime uma forte corrente, provavelmente indomada e indomável; de um candidato, pois, que, na plena consciência do que vale a designação que do próprio nome foi feita, se dispõe a lutar pelo seu direito, guiado sempre pelo único imperativo de servir a honra e o interesse nacionais.
A aceitação desta candidatura implica, aliás, como é de prever, atentas responsabilidades anteriores, o propósito de não colaborar nos actos públicos, pré eleitorais e eleitorais, a que faltem as características democráticas da liberdade, seriedade e independência; de não sancionar com o meu silêncio, nem os vícios da lei, nem as práticas dolosas que, imperfeita embora como é, a desrespeitam. Farei a propósito, oportuna e incessantemente, as reclamações adequadas. Esta candidatura haverá, assim, que prestigiá-la à face do País, por isso que de mais sei que, sem este prestígio, não sirvo a função e não honro o mandato que me fica entregue. Culmino com este acto, maduramente pensado, da minha vida pública aquela acção política de democrata convicto que tenho exercido, o melhor que me tem sido possível, no decurso de uma longa existência. Mantenho me fiel a princípios que sempre defendi e, julgando traduzir, com a minha atitude, as aspirações da maioria da Nação, voto-me inteiramente, neste derradeiro combate, à satisfação dessas aspirações, as quais vão - sem mais preâmbulos - adiante expostas, como sendo a parte doutrinária do presente manifesto.
Quais são, segundo os compreendo, os pontos de vista e propósitos comuns do povo português, materializados nesta apresentação de candidatura?
Vou enumerá-los com a maior concisão possível e nas minhas palavras nada haverá que possa ofender ou irritar, pois que no povo a que pertenço só vejo vontade de harmonia, de respeito mútuo e de vida pacífica.
I - Cansado de divergências internas, o povo português deseja que todos os habitantes de Portugal sejam acima de tudo portugueses; que a tolerância e o respeito pela pessoa humana os ligue a todos e permitam a cada um viver a sua vida sem o terror desmoralizante da incerteza.
II - Hoje mais do que nunca quer Portugal marcar o lugar a que tem direito no mundo, engrandecer-se e prestigiar-se, manter ciosamente as suas independência e soberania fundamentais e cooperar internacionalmente para a consolidação da paz universal, servindo-se para tanto do seu espírito empreendedor, do seu génio colonizador e da sua bondade natural que só injustiças e violências podem alterar.
lII - Um grande campo de acção continua aberto às actividades portuguesas e nele têm, desde há séculos, desaparecido sempre todas as nossas discórdias, quando logra dominar-nos uma visão superior.
Refiro-me à missão histórica de Portugal, à colonização e civilização de territórios de além-mar.
Na continuação dessa obra, intensificando-a e sublimando-a no tremendo momento que se atravessa, todos os portugueses poderão encontrar-se lado a lado, longe de contendas e tendo apenas em vista melhorar e elevar a vida nacional, quer vivam na Metrópole quer no Ultramar, sem necessidade de ninguém se deslocar para ir, vexado, colocar-se ao lado doutrém. O lugar é de todos e para todos.
IV - Mas para conseguir o que fira dito, que é considerável, muito há a fazer. Em primeiro lugar temos de levar a cabo a Unidade Nacional, concebida, aliás, desde a primeira hora das descobertas dos nossos antepassados. - A Nação é uma só, formada por territórios situados na Europa e por outros em continentes diversos, províncias portuguesas de aquém e de além-mar, que assim lhe chamaram os nossos maiores. A Unidade Nacional implica: - Unidade territorial: para o que temos de agir como se se tratasse de um território único e contínuo. - Unidade económica: que consiste no aproveitamento integral e harmónico de todos os esforços da Nação, materiais e espirituais. As medidas de progresso aplicadas a qualquer porção do território nacional, da Metrópole ou do Ultramar, de modo algum deverão prejudicar as porções restantes. Tudo pára todos. Sacrifícios e vantagens terão de ser gerais e subordinados a uma repartição equitativa. - Unidade de acção: pois que sem ela a unidade territorial não se manterá e a unidade económica nunca chegará a existir. - À valorização das colónias devemos dar o nome de valorização da Nação; não há política colonial, há apenas política nacional. - Realizar a Unidade Nacional e consolidá-la são os primeiros deveres da República.
V - Temos também, para que se transformem em realidade os desejos do povo português, de proceder sem mais demoras ao intenso povoamento do Ultramar. A pequena área metropolitana tem hoje mais de oito milhões de habitantes, e, para bem da Metrópole e dos territórios de além-mar, é necessário que muitos milhares de famílias portuguesas se vão fixar anualmente em terras pouco povoadas até hoje.
VI - Necessário é também que nos nossos planos de desenvolvimento económico nunca se perca de vista que os habitantes da Nação, brancos e de cor, olham com apreensão cada vez maior para a estagnação e muitas vezes diminuição de produção agrícola. Temos de continuar, por gerações ainda, se desejamos real melhoria de vida ria Metrópole e no Ultramar, a basear na produção agrícola a nossa força de resistência a todo o mal que nos pode atacar. Sem deixar de fazer avançar a industrialização da Nação, não devemos com esse avanço colocar a agricultura em condições inferiores às de outras actividades. Nunca devemos perder de vista o modo de ser e a mentalidade que a vida rural produziu na maior parte das populações portuguesas e que nessa vida rural tem de assentar também toda a civilização dos indígenas das províncias ultramarinas.
VII - Colocada que seja rada uma das actividades nacionais no seu lugar próprio, o que se requer é uma planificação geral, superiormente concebida, no espaço e no tempo, que signifique a integração perfeita de todas as energias e conduza o povo português à mais completa valorização dos recursos naturais de terra e mar, adstritos no território que lhe pertence.
VIII - É este, a traços largos, o plano de Unidade e de Renovação Nacional que se impõe. Mas para a sua realização a Nação carece que um novo regime político se estabeleça.
O povo português deseja reintegrar-se, nas suas linhas gerais e com as alterações necessárias, sobretudo de carácter social e atinentes à obtenção de mais elevado nível geral de vida, no regime liberal que, desde a abolição do absolutismo até 28 de Maio de 1926, persistiu na Nação. Não deseja de forma alguma esse povo viver privado de liberdades fundamentais, do pleno exercício dos direitos do homem e sem garantias de possibilidade em alcançar uma vida cada vez mais alta e mais digna. Progresso económico sem liberdades cívicas, ser a prática garantida de cidadania, não serve aos povos livres, e o povo português quer ser, acima de tudo e antes de tudo, um povo livre. Assim a apresentação de uma candidatura de oposição no actual estado de coisas significa a luta legal e pacífica pelos objectivos seguintes:
1.º- Restituição aos cidadãos portugueses das liberdades fundamentais, o que implica a adesão efectiva do Estado Português a princípios internacionalmente definidos e aceites que aos Direitos do Homem digam respeito.IX - Logo após a proclamação da República em 5 de Outubro de 1910, todas as nações se apresentaram a declarar a Portugal a sua amizade. A Inglaterra manifestou-nos o desejo de que se mantivesse a aliança que a ela nos ligava. Essa aliança foi consagrada pela intervenção de Portugal na primeira Grande Guerra.
2.º - Reconhecimento prévio, com base em tais princípios, de constituir no agregado social civilizado o indivíduo, portador de direitos e deveres, isto é, o cidadão, a unidade fundamental de todo o sistema; unidade esta que, perante o Estado e a Autoridade que o representa, apenas cede, deliberada e conscientemente, da liberdade própria aquela parcela maior ou menor que tenha sido julgada, pelo Estatuto Nacional democraticamente aprovado, como necessária ao equilíbrio colectivo e ao bem-estar geral.
3.º - Reafirmação e reconhecimento efectivo de que são atributos inamovíveis do cidadão:
a - os direitos à vida e à existência sã, à liberdade pessoal, ao trabalho (com o dever correlativo), à residência e à inviolabilidade do domicílio, ao sigilo de correspondência, à propriedade pessoal, ao acesso a qualquer profissão, à instrução, ao acesso à cultura, à personalidade política, à assistência médica e à segurança social, à petição aos poderes públicos; finalmente à resistência perante a opressão e a tirania.4.º - Satisfação imediata de algumas reivindicações mais instantes que decorrem do anterior e especialmente ferem a sensibilidade da opinião democrática e liberal, como sejam
b - o exercício das liberdades de: consciência, crença e culto público e privado; palavra e meios de expressão: reunião e associação; acesso às fontes de informação nacionais e estrangeiras.
c - e a igualdade de todos perante a lei fundamental, sem que possam ser motivo de regime discriminatório a raça, o sexo, a língua, a religião e as opiniões políticas.
a - aplicação integral da Justiça, dignificando-a, como poder do Estado totalmente independente. Abolição da policia política. Supressão do regime prisional que admite a tortura ou qualquer tratamento desumano dado aos presos, e, como tal, extinção de campos de concentração ou de estabelecimentos afins (Colónia Penal de Cabo Verde).5.º - Adopção no campo económico de medidas estimuladoras das iniciativas individuais, com abolição da administração corporativa e libertação, consequente, das actividades agrícola, industrial e comercial, das peias que conduzem à estagnação ou diminuição da produção e às crises económicas. Defesa económica das classes médias e trabalhadoras.
b - amnistia total para os presos políticos e por questões ditas sociais e consequente regresso dos exilados.
c - abolição do regime de censura.
d - liberdade de organização e actuação para os partidos políticos.
e - possibilidade de fundação, sem entraves, de novos jamais e outros meios de publicidade.
f - aplicação por lei às ideias políticas do disposto no n .O 3 do art. 8 ° da Constituição Política vigente, isto é: garantias de liberdade e inviolabilidade para os cidadãos ao professarem ideias políticas e quando no exercício das actividades respectivas, sem que possa qualquer ser perseguido por tais motivos, nem obrigado a responder. E ainda a apresentação desta candidatura pressupõe alguns propósitos de Administração futura, ajustados às directrizes atrás esboçadas nos n °s III a VII, tais como:
6 ° - Aumento, em número e área, da acção das cooperativas de produção e consumo.
7.º - Aceitação dos princípios da nacionalização, sempre que provadamente se imponham para o mais rápido e eficaz conseguimento do bem-estar generalizado, máxima preocupação de governação pública.
8.º - Reforma profunda de ensino público: instrução primária largamente difundida e gratuita; instrução secundária tendendo como aquela para a gratuitidade e para o aspecto dominante de escolas de continuação profissionais; generosa dotação do ensino superior e de investigação científica, integrando a Universidade na sua função social de democratização da cultura. Impulso sincero e decisivo à obra nacional de educação e de cultura popular.
9.º - Adopção de amplas medidas de assistência e segurança social, com serviços nacionalizados, adaptados à natureza das diversas populações do território português e todas conducentes a garantir a vida sã, a higiene do trabalho e a sustentação no desemprego, na invalidez e na velhice.
10.º - Resolução dos problemas primordiais da alimentação e habitação do povo português.
É à futura Câmara Constituinte que competirá fazer a declaração sobre as relações de Portugal com as outras nações, mas estou certo de que o povo português deseja viver em paz e amizade com todos os povos, independentemente do especial relevo a dar aos laços de sangue com o Brasil e às relações de vizinhança, e deseja intensificar com todas as nações o seu comércio, e concorrer o mais possível para a paz universal e para o bem da Humanidade.
A manutenção da aliança com a Inglaterra, em especial, será sem dúvida o desejo constante de Portugal, de forma a que ela se torne cada vez mais íntima, perfeita e dignificante, e mais vantajosa para as duas Nações em consequência da troca de benefícios mútuos.
X - Portugueses!
Se esta candidatura vingar, para o que é primeira condição respeito pelos princípios democráticos atrás mencionados, o Presidente eleito nomeará um Governo cujos objectivos principais serão iniciar a realização dos planos de reforma que neste manifesto ficam apenas esboçados e promover que se faça no mais curto prazo a eleição inteiramente livre de uma Câmara Constituinte. Dessa Câmara sairá a consagração da nova Democracia pela publicação de uma adequada Constituição Política da República. Terá desde logo terminado a minha missão, e novo Presidente, nos termos daquela Constituição, haverá de ser eleito. Portugal ocupará então o lugar que lhe compete na Organização das Nações Unidas e seguirá confiadamente pelos séculos fora na realização da sua missão histórica, servindo sempre a causa da Paz e nunca esquecendo o bem da Humanidade.
Lisboa, Julho de 1948.
NORTON DE MATOS »
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