Representada por um Xadrez circular para três pessoas de «3 Man Chess - http://www.3manchess.com»
Significante que vem do Grego ὀλίγος (olígos), que significa poucos («a few»), e ἄρχω (archo), que significa governar («to rule»): o governo exercido por poucos, o poder concentrado em poucas pessoas/grupos.
O Grande Pedagogo e Historiador Augusto Reis Machado, nascido em Lisboa em 1887, Professor e Metodólogo do Liceu Pedro Nunes, de entre a sua vasta Obra sobre a Nação Portuguesa, publicada e não publicada, apresenta-nos no seu elucidativo e excelente texto «Dê-se Consciência à Nação» (1923) o «Problema» do «regime oligárquico-parasitário», que domina Portugal há cerca de V séculos, bem como a resposta cultural para a tendente solução desse problema: «Dar-se consciência à Nação»!
AUGUSTO REIS MACHADO
«DÊ-SE CONSCIÊNCIA À NAÇÃO»[1]
Passou a época da torrente do ouro das conquistas,
e só ficaram os hábitos de luxo da capital, e preguiça dos povos senhores, e
indolência e miséria; mas o que tinha até agora o triste remédio no suor dos
escravos, só pode achar remédio no trabalho dos senhores.
Mousinho
da Silveira
O liberalismo pouco mais tem sido, em Portugal, que
um sistema de exploração a favor duma dúzia de políticos conluiados com outra
dúzia de banqueiros… oligarquia de políticos, banqueiros e jornalistas que pôde
enxertar-se, numa vegetação parasitária, à crosta dum país escanzelado.
Silva
Cordeiro
Entre nós há um facto que convém estudar: a
existência dum povo, por cuja educação os governos… quase nada fizeram até
hoje, e que todavia tem boas qualidades, que contrastam por vezes singularmente
com as dos chamados dirigentes.
Adolfo
Coelho
As formas de governo são boas ou más consoante o
valor dos homens que as põem ao seu serviço.
A. Croiset.
As
verdadeiras riquezas dum Estado são os homens.
Bossuet.
«Em Portugal
há um importantíssimo problema a resolver, problema que lhe é muito próprio,
que domina toda a sua vida e se faz sentir em todas as suas manifestações.
É o
problema da existência duma organização político-social caracterizada pelo
predomínio de vários grupos de indivíduos, que exclusivamente tratam dos seus
interesses em detrimento dos interesses gerais. Esta organização é bem
conhecida em história: é o chamado regime oligárquico-parasitário.
Tem dado
cabo de várias sociedades: a ateniense, a cartaginesa, a romana… Tomou conta de
Portugal há cerca de quatro séculos; desde então domina-o, apesar de todas as
revoluções, e se Portugal não fosse tão robusto, não tivesse tantas e tão boas
qualidades, já teria desaparecido. Tem feito com que, há muitos e muitos anos,
a vida seja mais cara e pior do que na maior parte dos outros países, com que o
ouro brasileiro e os empréstimos do Estado (e tão numerosos e avultados têm
sido!), em vez de largamente beneficiarem a nação, tenham desaparecido numa
formidável voragem, mal deixando umas escolas, uns caminhos de ferro, umas
pontes, umas estradas…
Vejamos
como.
Pela
exploração erigida em exemplo. A exploração rendosa, fortemente rendosa sem
grande trabalho, sem grande risco, realizada por um reduzido número de
indivíduos que, através os tempos e sob designações diferentes, têm conseguido,
mais ou menos, amontoar fortunas: a exploração do Estado, a exploração do povo,
a exploração do preto, a exploração do emigrante… E assim, (em face do exemplo
vindo de alto), o ideal da maioria dos portugueses passa a ser também explorar:
explorar o emprego público, explorar o patrão, explorar o caixeiro, explorar o
freguês, explorar o rendeiro, explorar o inquilino, explorar o proprietário,
explorar o aluno, explorar o professor… explorar, explorar, explorar. Triste
hierarquia de exploradores!
Aqueles
indivíduos, a quem se pode dar o nome comum de capitalistas, têm tido nos
países verdadeiramente civilizados uma função utilíssima. Pelos seus vastos
empreendimentos, pelas suas rasgadas iniciativas têm contribuído para a
abertura de canais, túneis, aproveitamento de quedas de água, de minas,
arroteamento de terrenos, etc. etc., e, não contentes com isso, como querendo
dar ao país a que pertencem satisfação pelas fabulosas quantias assim obtidas,
fundam hospitais, asilos, bibliotecas, universidades… Mais ainda, contribuem
também, embora indirectamente, para que colabore em tamanha obra, sinta o poder
criador e transformador do homem, uma enorme massa de gente (o proletariado)
que, mercê da desproporção entre os lucros recíprocos, tem travado uma
incessante luta em que se vai educando na conquista sucessiva de maiores
regalias e de maior justiça.
E porque
não sucede o mesmo em Portugal?
Porque
Portugal perdeu há cerca de quatro séculos, após
os descobrimentos e conquistas ultramarinas, as condições normais da vida
social. E os novos moldes e o novo espírito que a civilização foi elaborando
não puderam ser assimilados devidamente pelo viciado organismo português. Nele
não existe, portanto, fortemente vividos, a noção dos direitos e deveres
inerentes a uma sociedade moderna normal, o sagrado respeito pela personalidade
humana. E por consequência domina o espírito explorador, antítese de tal
atitude.
Vindos,
aliás de longe, aquela noção e aquele respeito, definiram-se, precisaram-se,
completaram-se sobretudo nos séculos em que Portugal, alheado do mundo europeu,
parasitava…
Consequentemente
não existem em Portugal elites directivas (os que as deviam, por natureza,
constituir, encontram-se, na generalidade, ao serviço das oligarquias), não
existe uma opinião pública consciente, uma atmosfera moral que a todos imponha
uma atitude caracteristicamente humana, que eleve os portugueses na pura e
plena espiritualização duma superior obra a realizar. Não existem as reacções
morais conscientes, enérgicas, persistentes, debeladoras das crises que, por
vezes, impelem as sociedades para a corrupção, para a desvergonha. Não existe,
em suma, uma vida verdadeiramente espiritual, como nos Estados-Unidos, na
Inglaterra, na França, na Alemanha, na Itália, na Bélgica, na Holanda… que num
mesmo sentido colectivo superior, faça convergir todas as actividades da nação,
submeta, domine os prevaricadores.
Qual o
remédio?
Dar
consciência à nação. Afastá-la da triste crença em elixires salvadores, que
pretendentes ao poder, bem ou mal intencionados, lhe inculcam, e levá-la a
intervir enérgica e inteligentemente na vida política, a impor-se aos
governantes de forma que o Estado deixe de ser um instrumento de interesses
particulares, mas o genuíno representante do interesse colectivo, impor-se não
por meio de bombas, canhões ou baionetas, mas por meio do jornal, do livro, do
folheto, da conferência, do comício (armas quase só manobradas até hoje, em
Portugal, pelos oligarcas e seus serventuários), impor-se em suma, por meio dum
movimento nacional dos espíritos, forte, consciente, profundo, superior a todos
os partidos, seitas, bancos ou companhias, que parta do que há de melhor na
sociedade portuguesa, dos que são explorados e não exploram, dos que
honestamente vivem do seu trabalho, dos que sentem o que há de espiritual na
vida. Só um movimento com este carácter pode fazer desaparecer a organização
oligárquico-parasitária que esmaga Portugal e transformá-lo numa sã, próspera,
verdadeira democracia, considerada como o regime em que os membros duma
colectividade intervêm conscientemente no governo dessa colectividade.
Nefelibatismo?
Utopia?
É assim que
nos países civilizados, sobretudo nos tempos modernos, têm sido resolvidos, os
mais graves problemas. Tudo o mais?
Panaceias
vãs. Os princípios, as doutrinas não passam de letra morta quando os homens que
os representam não são verdadeiramente Homens.»
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