Isabel Almeida, ex Directora de Operações Financeiras do BES na audiência na Assembleia da República no âmbito da Comissãoo de Inquérito BES/GES (foto de Bruno Simão) http://cdn.negocios.xl.pt/2015-01/img_708x350$2015_01_13_10_05_30_242130.jpg
Tudo o que se passou nos bancos privados evidencia a necessidade de aumentar a acção do Estado e da Sociedade na regulação e gestão do negócio bancário. Importante depoimento de Isabel Almeida:
«Nunca disse sim a todas as instruções do Dr. Ricardo Salgado. Ele ouvia a minha opinião. Nunca segui cegamente as suas instruções. Embora a decisão final fosse dele»
«É com grande tristeza que vejo o meu nome associado a práticas alegadamente ilícitas» «oportunidade para esclarecer os factos»
«Nunca tomei nenhuma decisão relevante que não tivesse tido o conhecimento prévio, a decisão e a aprovação do Dr. Morais Pires» «instruções directas do Dr. Ricardo Salgado (...) foram sempre comunicadas e validadas pelo Dr. Morais Pires»
«Nunca tive qualquer dúvida sob a minha linha de reporte, sem a qual nenhuma decisão relevante foi tomada (...) as principais transacções, mesmo quando enquadradas pelos limites estabelecidos pela comissão executiva, eram sempre sujeitas à aprovação do Dr. Morais Pires, o presidente da comissão executiva»
«Veio nas notícias que chorei e confessei (...) Não havia nada a confessar e não chorei (...)
Penso que a nova administração não foi alertada pela anterior desta situação. Na primeira semana de Vítor Bento, acedemos à linha de liquidez de emergência, é normal que a gestão estivesse mais preocupada com isso. E não estavam alerta para as perdas com obrigações (...)
Em desespero de causa, enviei uma nota para a comissão executiva (CE) a 16 de Julho. Mas não se discutiu o problema. A 18 insisti para se discutir esse problema. Nessa altura, os três novos administradores do BES não estavam na CE, tinham ido ao Banco de Portugal. Os administradores comerciais presentes adiam a discussão para 21 de Julho, segunda-feira, para apresentar essa nota (...) Só tive tempo de actualizar os prejuízos que já eram de 250 milhões (...)
No dia seguinte, reportei que estava disponível para dar essa informação à CE. Começou a auditoria da PwC, a quem dei essa informação. E disse à KPMG. A KPMG disse que me tinha interrogado e fechado o ciclo. Mas eu não fui interrogada. Falei por minha iniciativa. (...)
Não fazia sentido que o banco continuasse a comprar as obrigações e, que eu tivesse conhecimento, não havia contratos de liquidez nem os clientes estavam a dar ordens de venda».
«[em julho] a meu pedido, fui ao seu escritório para lhe pedir para vir explicar aos novos membros do conselho de administração toda a temática das obrigações. (...) Mas recusaram [tanto Ricardo Salgado - CEO como Morais Pires - CFO].
«Todas essas operações são assim uma obrigação contratualmente tomada pelo BESA (...) o BESA dava indicação à sala de mercados do BES para colocar esses valores na própria conta do BESA junto do BES (...) O dinheiro era colocado nessa conta por instrução do BESA»
«Na altura estávamos a falar de 1500 milhões de euros (...) a exposição duplica para fazer face às necessidades e modelo de financiamento do BESA (...) A partir de 2012, o aumento na exposição do BES resulta muito da capitalização de juros (...) ao contrário do que aqui já foi dito, o BESA já não pagava (...) De 2012 a 2014 foi um acumular de juros que fizeram aumentar a exposição em cerca de 400 milhões de euros (...). [Foi assim que se atingiu o valor] enormíssimo [de 3300 milhões de euros]
"O documento de divulgação de contas semestrais dizia que o BES Angola iria necessitar de um aumento de capital significativo e que o BES deveria diluir a sua posição accionista. É isto que cria a dúvida no mercado de que a garantia [do presidente de Angola] continuasse válida. A garantia protegia 70% da carteira de crédito».
«(...) os resultados do BES relativos a 30 de Junho falavam na diluição da posição do BES no BESA. Quando viram isso, os analistas fizeram as suas análises. O mercado deixou de ter fundo (...)
A garantia era de 4.800 milhões de euros. A garantia de Angola tem a dimensão da resolução do BES. Se a garantia ia ser revogada, não havia solução privada para o BES»
«Para mim, até para a minha participação em algumas decisões que estão em investigação, foi importante, o facto de empresas que faziam parte do GES e tinham deixado de fazer - como a ES Turismo e a Escom -, apesar de terem dívida colocada em clientes do BES».
«Quando a KPMG anuncia que teria que ser feita uma provisão de 700 milhões, fiquei muito preocupada. Não via como se ia lidar com esta situação (...) Por essa situação, a provisão é feita no ESFG. Para proteger o BES, seu principal activo.»
«A aplicação da PT na Rioforte foi negociada pelos meus superiores hierárquicos, Morais Pires e Salgado e foi-me comunicada por morais Pires. O departamento financeiro apenas recebeu as instruções da PT através do seu gestor comercial (...) Havia uma diferença entre as instruções da PT e as instruções ou a informação que me tinha sido transmitida pelo Dr. Morais Pires. A PT dizia que a aplicação era a três meses e Morais Pires a um ano. (...) O CFO da Rioforte questionou-me. O departamento financeiro não intervém em nenhum negócio e em nenhuma negociação de dívida do GES. Em momento algum o departamento financeiro esteve envolvido. Recebi as instruções que vinham da PT, contactei a Rioforte para executar, através das emissões de obrigações, para darem informação ao cliente e executar a operação.
«[O Estado da Venezuela, que através do fundo soberano do país e da Petróleos da Venezuela, aplicou 800 milhões em dívida do GES, tinha depósitos] muito significativos no BES [A retirada destes depósitos aconteceram em Julho, no pico da crise do banco, revelou Isabel Almeida. Em Junho e Julho, o BES perdeu 10 mil milhões de euros em depósitos.]
(...) tinham
depósitos no BES e papel comercial do GES (...) Em Julho e Agosto, reduziram significativamente os depósitos no BES.
Continuaram a ser depósitos significativos, mas inferiores (...) havia mais investidores institucionais (...) Não com a mesma dimensão da PT ou dos
clientes venezuelanos (...) era o dr. Ricardo que negociava estes investimentos».
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