sábado, 17 de janeiro de 2015

A ASCENSÃO E A QUEDA DA BANCA XII - ARGENTARIA ORTUM ET OCASUM XII - THE RISE AND THE FALL OF BANKS XII

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Isabel Almeida, ex Directora de Operações Financeiras do BES na audiência na Assembleia da República no âmbito da Comissãoo de Inquérito BES/GES (foto de Bruno Simão) http://cdn.negocios.xl.pt/2015-01/img_708x350$2015_01_13_10_05_30_242130.jpg

Tudo o que se passou nos bancos privados evidencia a necessidade de aumentar a acção do Estado e da Sociedade na regulação e gestão do negócio bancário. Importante depoimento de Isabel Almeida:

«Nunca disse sim a todas as instruções do Dr. Ricardo Salgado. Ele ouvia a minha opinião. Nunca segui cegamente as suas instruções. Embora a decisão final fosse dele»

«É com grande tristeza que vejo o meu nome associado a práticas alegadamente ilícitas» «oportunidade para esclarecer os factos»

«Nunca tomei nenhuma decisão relevante que não tivesse tido o conhecimento prévio, a decisão e a aprovação do Dr. Morais Pires» «instruções directas do Dr. Ricardo Salgado (...) foram sempre comunicadas e validadas pelo Dr. Morais Pires»
«Nunca tive qualquer dúvida sob a minha linha de reporte, sem a qual nenhuma decisão relevante foi tomada (...) as principais transacções, mesmo quando enquadradas pelos limites estabelecidos pela comissão executiva, eram sempre sujeitas à aprovação do Dr. Morais Pires, o presidente da comissão executiva»

«Veio nas notícias que chorei e confessei (...) Não havia nada a confessar e não chorei (...)
Penso que a nova administração não foi alertada pela anterior desta situação. Na primeira semana de Vítor Bento, acedemos à linha de liquidez de emergência, é normal que a gestão estivesse mais preocupada com isso. E não estavam alerta para as perdas com obrigações (...)
Em desespero de causa, enviei uma nota para a comissão executiva (CE) a 16 de Julho. Mas não se discutiu o problema. A 18 insisti para se discutir esse problema. Nessa altura, os três novos administradores do BES não estavam na CE, tinham ido ao Banco de Portugal. Os administradores comerciais presentes adiam a discussão para 21 de Julho, segunda-feira, para apresentar essa nota (...) Só tive tempo de actualizar os prejuízos que já eram de 250 milhões (...)
No dia seguinte, reportei que estava disponível para dar essa informação à CE. Começou a auditoria da PwC, a quem dei essa informação. E disse à KPMG. A KPMG disse que me tinha interrogado e fechado o ciclo. Mas eu não fui interrogada. Falei por minha iniciativa. (...)
Não fazia sentido que o banco continuasse a comprar as obrigações e, que eu tivesse conhecimento, não havia contratos de liquidez nem os clientes estavam a dar ordens de venda».

«[em julho] a meu pedido, fui ao seu escritório para lhe pedir para vir explicar aos novos membros do conselho de administração toda a temática das obrigações. (...) Mas recusaram [tanto Ricardo Salgado - CEO como Morais Pires - CFO].

«Todas essas operações são assim uma obrigação contratualmente tomada pelo BESA (...) o BESA dava indicação à sala de mercados do BES para colocar esses valores na própria conta do BESA junto do BES (...) O dinheiro era colocado nessa conta por instrução do BESA»
«Na altura estávamos a falar de 1500 milhões de euros (...) a exposição duplica para fazer face às necessidades e modelo de financiamento do BESA (...) A partir de 2012, o aumento na exposição do BES resulta muito da capitalização de juros (...) ao contrário do que aqui já foi dito, o BESA já não pagava (...) De 2012 a 2014 foi um acumular de juros que fizeram aumentar a exposição em cerca de 400 milhões de euros (...). [Foi assim que se atingiu o valor] enormíssimo [de 3300 milhões de euros]
"O documento de divulgação de contas semestrais dizia que o BES Angola iria necessitar de um aumento de capital significativo e que o BES deveria diluir a sua posição accionista. É isto que cria a dúvida no mercado de que a garantia [do presidente de Angola] continuasse válida. A garantia protegia 70% da carteira de crédito».
«(...) os resultados do BES relativos a 30 de Junho falavam na diluição da posição do BES no BESA. Quando viram isso, os analistas fizeram as suas análises. O mercado deixou de ter fundo (...)
A garantia era de 4.800 milhões de euros. A garantia de Angola tem a dimensão da resolução do BES. Se a garantia ia ser revogada, não havia solução privada para o BES»
«Para mim, até para a minha participação em algumas decisões que estão em investigação, foi importante, o facto de empresas que faziam parte do GES e tinham deixado de fazer - como a ES Turismo e a Escom -, apesar de terem dívida colocada em clientes do BES».
«Quando a KPMG anuncia que teria que ser feita uma provisão de 700 milhões, fiquei muito preocupada. Não via como se ia lidar com esta situação (...) Por essa situação, a provisão é feita no ESFG. Para proteger o BES, seu principal activo.»

«A aplicação da PT na Rioforte foi negociada pelos meus superiores hierárquicos, Morais Pires e Salgado e foi-me comunicada por morais Pires. O departamento financeiro apenas recebeu as instruções da PT através do seu gestor comercial (...) Havia uma diferença entre as instruções da PT e as instruções ou a informação que me tinha sido transmitida pelo Dr. Morais Pires. A PT dizia que a aplicação era a três meses e Morais Pires a um ano. (...) O CFO da Rioforte questionou-me. O departamento financeiro não intervém em nenhum negócio e em nenhuma negociação de dívida do GES. Em momento algum o departamento financeiro esteve envolvido. Recebi as instruções que vinham da PT, contactei a Rioforte para executar, através das emissões de obrigações, para darem informação ao cliente e executar a operação.

«[O Estado da Venezuela, que através do fundo soberano do país e da Petróleos da Venezuela, aplicou 800 milhões em dívida do GES, tinha depósitos] muito significativos no BES [A retirada destes depósitos aconteceram em Julho, no pico da crise do banco, revelou Isabel Almeida. Em Junho e Julho, o BES perdeu 10 mil milhões de euros em depósitos.]
(...) tinham depósitos no BES e papel comercial do GES (...) Em Julho e Agosto, reduziram significativamente os depósitos no BES. Continuaram a ser depósitos significativos, mas inferiores (...) havia mais investidores institucionais (...) Não com a mesma dimensão da PT ou dos clientes venezuelanos (...) era o dr. Ricardo que negociava estes investimentos».

«Acreditei até ao fim na viabilidade e solvabilidade do BES. Apesar de todo o ambiente de pressão dos primeiros seis meses do ano, sobretudo nos primeiros 15 dias de Julho. Sempre acreditámos (...) em nenhum momento fui movida pela obtenção de benefícios pessoais.
Nunca abandonei a direcção do departamento financeiro, mesmo quando fui alvo de calúnias e o meu nome foi difamado (...) Perdi tudo o que tinha investido no banco e que correspondia a grande parte das minhas poupanças». 


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