O Mar de conchas
Forma ele próprio uma concha
Com as suas ondas
Que passam por entre a rocha
By Alvesgaspar [CC BY-SA 3.0 (https://creativecommons.org/licenses/by-sa/3.0) or GFDL (http://www.gnu.org/copyleft/fdl.html)], from Wikimedia Commons
«Há mares e mares: antigos e
dobrados, modernos e espraiados» 27 de julho de 2013
Autor: Jorge L. Dinis
Equipa: Mónica Sousa, Margarida Silva e Jorge L. Dinis
http://www.cienciaviva.pt/veraocv/2014/downloads/Gui%C3%A3o_GeoVer%C3%A3oAPG_Caldas2014_final.pdf
«Nesta região ocorre uma excepcional conjugação de vários fatores que formam uma
extraordinária geodiversidade, incluindo:
- provas da abertura do Atlântico, com o afastamento entre a península Ibérica e o
Canadá, durante o Mesozóico;
- evidências da colisão entre a península Ibérica e a África, mais tarde, no Cenozóico.
- uma fratura que corta toda a crosta terrestre, separando blocos que se movimentaram
naquelas duas fases, definindo o essencial da paisagem atual;
- a história geológica mais recentes desta zona litoral reflete as grandes mudanças
globais e interage com a ocupação humana desde tempos ancestrais.
Figura 1 – Corte geológico esquemático da região Oeste. Legenda: infralias: Margas de
Dagorda, 1: Jurássico inf.+ med., 2 e 3: Jurássico sup., 4: Cretácico e Cenozóico.
Modificado de Zbyszewskiy (1959).
O vale tifónico das Caldas da Rainha (Figura 1) é a estrutura condutora, embora não
exclusiva, desta excursão. O vale é a expressão geomorfológica de um anticlinal (uma
dobra convexa das camadas geológicas), conhecido como diapiro das Caldas da Rainha,
com o núcleo formado por materiais geológicos moldáveis. Estes pertencem a uma
Sinclinal de
Alcobaça-Bombarral
2
unidade conhecida como “Margas de Dagorda”, composta por margas e argilas com
evaporitos (sal-gema ou halite, gesso e anidrite), com intercalações de calcários. Este
anticlinal localiza-se sobre a referida falha crustal, também denominada falha das Caldas
da Rainha (Figura 1). Na fase em que a Europa e a América se afastavam, a fratura abriu
e permitiu a ascensão de magma que consolidou como corpos sub-vulcânicos,
nomeadamente o monte de S. Bartolomeu, entre outros.
A compressão entre a Europa e a África traduziu-se pela formação do anticlinal acima
referido, formando os seus flancos ainda não erodidos os relevos que actualmente
ladeiam o vale tifónico das Caldas Rainha (Figura 2).
A ocidente, estes flancos separam o vale do oceano, mas são entalhados por gargantas
que estabelecem a comunicação do mar com o interior da depressão e permitem a
drenagem das águas e sedimentos provenientes do continente.
Depois da última grande glaciação, que
terminou há cerca de 20.000 anos, o mar
subiu entre 120 a 140 m, invadindo uma
grande parte do vale, formando vastas
lagunas com máxima extensão há cerca de
7.000 anos, no Holocénico médio. Depois
do mar estabilizado, as lagunas foram
sendo assoreadas pelos sedimentos
trazidos pelos rios, mas em quantidades
que refletem as actividades humanas nas
bacias de drenagem – de notar que a
deflorestação e a agricultura aumentam
imenso a erosão dos solos.
Figura 2 - Lagunas holocénicas associadas
à estrutura das Caldas da Rainha,
indicando a máxima extensão (c. 7 000 BP)
e a superfície actual. Modificado de Dinis et
al. (2006).
A laguna de S. Martinho do Porto é um destes casos (Fig. 2), sendo a “concha” actual o
remanescente de uma vasta laguna que se estendia ainda na Idade Média por mais 5 km
até Alfeizerão. Já a várzea a sul de Nazaré e Valado dos Frades corresponde à
colmatação total da antiga laguna da Pederneira. Parte da Laguna de Óbidos também
ocupava espaços deste vale (...)».